Suporte e formação de educadores é central para efetivar a Cidadania Digital nas escolas, aponta debate promovido pela SaferNet

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Suporte e formação de educadores é central para efetivar a Cidadania Digital nas escolas, aponta debate promovido pela SaferNet

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Tema foi debatido no 10º Simpósio Crianças e Adolescentes na Internet, em São Paulo

A SaferNet encerrou a 10ª edição do Simpósio Crianças e Adolescentes na Internet com um painel em que foi discutida educação e cidadania digital e que teve a participação de educadores, uma representante do MEC e uma estudante. 

O debate “Tecnologias e Educação: Qual o papel dos educadores em um novo mundo digital?” foi mediado pela psicóloga Bianca Orrico, doutora em Estudos da Criança pela Universidade do Minho, em Portugal. 

Assista aqui o painel promovido pela SaferNet no simpósio.

Bianca integra a equipe da Disciplina de Cidadania Digital, projeto desenvolvido pela SaferNet em parceria com o Governo do Reino Unido, com recursos do DAP (Digital Access Programme). O projeto já beneficiou mais de 100 mil estudantes em mais de 500 municípios de todos os estados do país em 3 anos de aplicação. 

Quase 43 mil educadores se inscreveram no curso de formação do projeto, que se encontra na sua segunda edição, atualizado com novos recursos didáticos, e está disponível na plataforma Avamec

Um dos educadores presentes foi Rodrigo César do Nascimento Xavier, do Setor de Tecnologia Educacional da Secretaria Municipal de Educação de Parnamirim, município da região metropolitana de Natal que tem uma parceria com a SaferNet para a implementação de aulas de Cidadania Digital. O trabalho dos docentes da cidade foi reconhecido este ano no Prêmio Cidadania Digital em Ação 2024, do qual o professor Hery Thiago foi um dos premiados. 

Além de simplesmente aplicar a disciplina para estudantes do 8º e 9º ano do fundamental, Xavier enxergou a possibilidade de adaptar a o conteúdo para alunos do 1º ao 5º ano do fundamental por meio do projeto “Patrulha Digital”, em que os estudantes dessa fase do fundamental observam e dialogam sobre comportamentos na internet junto de de seus familiares. 

No debate, o educador contou que a equipe pedagógica envolvida com o Patrulha ganhou uma nova atribuição, voluntária. “Recebemos um convite para integrar o grupo de trabalho de construção do documento curricular de computação do Estado do Rio Grande do Norte”.

Na mão inversa, a sindicalista Vanda Santana, do APP-Sindicato, o Sindicato dos Professores do Estado do Paraná, afirmou que o preparo dos professores para o mundo digital é uma pauta histórica, mas questionou a forma plataformizada como as mudanças no ensino público vêm sendo realizadas, com muitos aplicativos para utilizar e pouco tempo para formação e atualização dos professores.

“Os professores não têm a sua hora-atividade garantida apesar de ter uma lei para isso. Então, qual é o tempo que nós temos até para fazer essa formação? Nós não temos, porque nós temos salas superlotadas, nós temos governos que não valorizam essa hora-atividade, que seria nossa hora para fazer estudo e permanência, para termos formação continuada”, disse. 

Já a advogada e professora universitária Paloma Mendes Saldanha, da ONG PlacaMãe.Org, contou de sua experiência desde 2018 com projetos voluntários de Educação Digital em escolas públicas da Região Metropolitana do Recife. 

Ela defendeu que uma “educação digital completa, estrutural” requer uma “responsabilidade compartilhada”, que envolve não somente o sistema educacional e professores, mas toda a comunidade escolar e a sociedade. 

Representante do Ministério da Educação no debate, a Coordenadora-Geral de Tecnologia e Inovação do MEC, Ana Ungari, afirmou que a dimensão completa da cidadania digital “não é relevante só para o estudante” e que é preciso “trazer o professor para esse debate”. Ela destacou entre as ações do MEC uma ferramenta de autodiagnóstico das competências digitais do professor para auxiliar esses profissionais a identificar áreas para melhorias. 

Segundo Ana, os professores têm à disposição cursos de formação continuada no Avamec, e que mais de 340.000 certificados já foram emitidos para educadores se desenvolverem dentro desses temas. Entre essas formações estão 4 cursos da Safernet Brasil, incluindo o exclusivamente desenvolvido para o projeto da Disciplina de Cidadania Digital (inscrições aqui).

O painel promovido pela SaferNet foi aberto com a fala da comunicadora Julia Fernandes, estudante de jornalismo de 18 anos, e jovem embaixadora da SaferNet. 

Ela defendeu que os jovens devem procurar seu direito a participação nas discussões de políticas de educação e outras que afetem diretamente suas vidas e que uma das formas de lutar por mais participação jovem nas arenas de discussão é “ocupando o digital, porque o poder está se movendo diante dos nossos olhos através das narrativas, dos discursos dos algoritmos e quando a gente fala sobre uma juventude informada e engajada, a gente tá falando sobre não deixar que falem por nós”, afirmou. 

Para Julia, não há projeto legítimo quando se despreza pessoas para as quais os projetos são voltados e que, acima de tudo, não haverá um futuro justo enquanto a juventude que o habitará não está sendo construída no presente”, afirmou. Ao final, ela reforçou um lema que a inspira: “Nada sobre nós sem nós”. 

10º Simpósio

O 10º Simpósio Crianças e Adolescentes na Internet aconteceu dias 21 e 22 de outubro. O evento é organizado anualmente pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) e pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) e a SaferNet é uma das correalizadoras. 

Thiago Tavares, presidente da SaferNet, participou da abertura do evento e ressaltou em sua fala os desafios que surgirão após a entrada em vigor do ECA Digital. 

“Agora é a fase de implementação, é onde o debate precisa decantar ele precisa adensar para que a gente consiga, de uma forma multissetorial, tirar do papel aqueles direitos e aquelas obrigações previstas no ECA digital e que a gente consiga, de fato, implementar a lei que foi aprovada, para que ela não vire mais um uma lei que dessas leis que nós temos que são muito boas, mas que não são aplicadas”. 

Para Tavares, uma das questões cruciais ainda não debatidas abertamente e indefinidas é uma forma eficaz de verificação etária na internet brasileira. “Será um desafio muito grande conseguir implementar isso com uma base de 160 milhões de usuários de internet”, disse. 

Além de educação, nos painéis do simpósio foram também debatidos desafios e riscos do acesso de crianças à internet antes dos 8 anos e impactos das apostas online sobre crianças e adolescentes. 

Confira os vídeos de todos os painéis e palestras do evento. 

Texto publicado em 31/10/2025

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