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Pesquisa realizada em escolas brasileiras revela a extensão das ameaças cibernéticas às quais os estudantes estão atualmente expostos

As análises mostram que os adolescentes, em particular, lidam com frequência com conteúdos e situações de risco online. Estas incluem aceitar pedidos de amizade de estranhos, encontrarem-se com pessoas que só conheceram online, postar fotos que deveriam ser privadas e compartilhar materiais sem pensar nas possíveis consequências futuras.

Os pesquisadores admitiram estar surpresos com a extensão de alguns dos comportamentos arriscados e violentos que os alunos alegaram ter encontrado. 

Também houve preocupação em como a maioria dos alunos, ao enfrentar um problema online, preferiria tentar corrigi-lo sozinho, em vez de procurar ajuda de professores ou pais.

Esta pesquisa foi realizada como parte do Programa de Acesso Digital (DAP), uma colaboração entre os governos do Reino Unido e do Brasil, projetado para melhorar a segurança cibernética e a conscientização sobre o tema. As descobertas da pesquisa foram usadas para ajudar a organizar um conjunto de recursos educacionais que agora estão disponíveis para professores em todo o país.

Este trabalho envolveu as Secretarias de Educação Estaduais (BA, DF e PE), o Foreign, Commonwealth and Development Office do Reino Unido, a Safernet Brasil e a KPMG. O componente de pesquisa foi liderado pela pesquisadora e professora doutora Maria Bada, da Queen Mary University of London, especializada em psicologia cibernética e danos online.

“Em todo o mundo, o volume de riscos online – e os danos que estes podem causar – está crescendo”, explica a Dra. Bada. “A maioria dos adolescentes tem acesso online, mas não está totalmente ciente dos perigos que enfrenta. Nesse sentido, os adolescentes brasileiros não são diferentes dos adolescentes de qualquer outro lugar. No entanto, no decorrer de nossa pesquisa, fiquei surpresa com a extensão em que esses estudantes tiveram contato com comportamentos racistas, sexistas ou misóginos online. Vi adolescentes que claramente sofriam de ansiedade e estresse causados por esses incidentes – e achei preocupante que, aparentemente, poucas delas pensassem em procurar conselhos sobre isso para um adulto”.

“Essas descobertas reforçam a importância de iniciativas como o DAP. Precisamos mudar a percepção dos jovens sobre o que se constitui como um comportamento online inaceitável. Eles precisam saber o que reportar e como. E então precisamos garantir que professores e pais estejam devidamente equipados para ter conversas relevantes sobre essas questões e fornecer apoio. Temos que lembrar que a exposição a esses comportamentos pode afetar significativamente a forma como esses jovens se veem e moldarão suas personalidades adultas”.

Resultados da pesquisa

Metade dos alunos envolvidos na pesquisa da professora Bada admitiu sentir-se chateado, envergonhado ou com medo por causa de algo que aconteceu enquanto eles estavam usando a internet no ano passado. Trinta e oito por cento dos alunos afirmaram que foram xingados, ridicularizados ou provocados por outros virtualmente de maneira ofensiva. Além disso, 22% disseram que algo que deveria ser privado foi compartilhado online.

Apesar de claramente se sentirem desconfortáveis com suas experiências, muitos alunos admitiram que continuaram a postar e compartilhar informações pessoais online. Aparentemente impulsionado por um desejo irresistível de reconhecimento ou aceitação social, esse é um fenômeno global que Bada e seus colegas pesquisadores desejam entender melhor.

Esse processo é exacerbado por uma ingenuidade geral e falta de conscientização entre os jovens sobre o que devem ou não compartilhar online. A confiança cega que muitos deles exibem em suas interações digitais – onde uma alta confiança atrelada à uma alta abertura resulta em alto risco - não ajuda.

Recomendações

A pesquisa – que envolveu mais de 250 alunos e seus professores em cinco escolas – levou a uma série de recomendações. Isso inclui sugestões para um plano escolar nacional para segurança cibernética; criação de canais de denúncia anônimos nas escolas; e a criação de regras escolares para prevenir o cyberbullying e o compartilhamento de conteúdo violento online.

Houve também sugestões para incentivar os alunos a reduzir o tempo que passam online; desencorajá-los a compartilhar imagens íntimas com qualquer pessoa, mesmo quando pressionados; e ensiná-los sobre as responsabilidades éticas e legais que eles têm pelo conteúdo que produzem e publicam online. A disciplina eletiva para o Ensino Médio que está sendo disponibilizada para as escolas abordará parte disso – mas não são apenas os alunos que precisam de assistência.

A doutora Bada continuou: “Durante o nosso trabalho de campo, aprendemos que os professores eram as últimas pessoas a quem alguns adolescentes procuravam para obter informações. Isso não é uma coisa agradável para eles ouvirem. No entanto, os próprios professores admitiram que, embora estivessem confiantes em suas próprias habilidades de computação, sua compreensão dos riscos e danos online não era tão boa. Pior ainda, eles estavam sendo solicitados a ajudar seus alunos, alertando-os sobre os perigos de coisas como cyberbullying – mas muitos nunca tiveram nenhum treinamento sobre como fazê-lo.”

“Realizamos esta pesquisa para identificar os possíveis danos que os adolescentes brasileiros enfrentam e os desafios que devem ser superados para que eles desenvolvam melhor suas habilidades digitais essenciais. Iniciativas como a eletiva do DAP ajudarão, mas ainda há mais a ser feito. De forma encorajadora, o governo brasileiro – e organizações especializadas como a Safernet – têm sido extremamente favoráveis, então esperamos que outros avanços sejam feitos em breve.”

Para saber mais sobre este projeto e a eletiva, acesse: https://new.safernet.org.br/content/educacao-cibernetica-nas-escolas-e-impulsionada-com-lancamento-de-nova-eletiva ou entre em contato por email dap@safernet.org.br (equipe Safernet) ou com mariana.cartaxo@fcdo.gov.uk (Embaixada do Reino Unido) para mais informações.

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